terça-feira, 30 de junho de 2009

Radiografia do meu Id.




"O problema é que quero muitas
coisas simples,
então pareço exigente.
O problema é que sou tola e carente,
mas não me deixo enganar,
se eu pudesse pedir um só pedido
seria: pára!
Pára esse carro em minha cabeça!
Quero descer, estacionar, bater num poste.
Não mais delirar,
nem sentir no corpo esse
seguir sem descanso,
atrás de sutilezas que não podem ser descritas."

(Fernanda Young)



segunda-feira, 29 de junho de 2009

When the tears don't fall.




Há momentos em que a nossa caixa toráxica parece haver diminuído. Ou o órgão vital, imponente e contraditoriamente frágil do corpo, contraí um tipo raro de patologia, cardiomegalia irreversível.
As veias já não o irriga com bons fluídos, porque seus ductos estão obstruídos por blocos lipídicos petrificados. Assim, as artérias se encarregam de bombear sangue venoso que dia e noite o alimenta.
Mas que correlação há entre o sistema "cardiocirculatório" e as glândulas lacrimais?
Simples!
Quando o coração nada sente, são abortados os estímulos nervosos que seriam enviados ao cérebro e consequentemente não haverá produção lacrimogênea.
Pessoas podem ser veias, mas também podem ser artérias. Ou elas te alimenta com coisas boas, ou más.
As gorduras da inveja, da mentira e da mediocridade, quando acumuladas e solidificadas, formando barreiras, podem afugentar bons sentimentos. A partir de então, um coração ligado a esse tipo de vaso, comprometerá toda a corrente sanguínea, e por conseguinte, a funcionalidade do orgão.
Ausência de lágrimas não constitui um diagnóstico, mas certamente é um dos sintomas de coração inchado.
Não sei se há prevenção, mas eu prescreveria uma boa dosagem de pragmatismo sentimental mais entorpercentes anti-depressivos.
E se ainda assim persistirem os sintomas, talvez haja melhor posologia em Exupéry, porque "é tão misterioso o país das lágrimas."

sábado, 6 de junho de 2009

The Prehistory of the Mind

título original - The Prehistory of the Mind: A Search for the Origins of Art, Religion, and Science.



Esta obra é um excelente trabalho que propõe o intercâmbio entre várias ciências (Arqueologia Cognitiva, Antropologia, Biologia Evolutiva, História e Psicologia) afim de explicar o comportamento humano desde os primordios.
A Teoria da Evolução de Charles Darwin, apesar de muito estudada, não responde todas as questões. Cada vez mais, os cientistas procuram peças de um quebra-cabeças ainda desconhecido.
Nossos ancestrais e por mais rústicos que fossem, apresentam semelhanças comportamentais bastante intrigantes com a nossa espécie. Isso é facilmente identificado nos artefatos e fósseis encontrados nas escavações de sítios arqueológicos.
Longe do cenário Indiana Jones, o ponto crucial
da discussão, parece mesmo ser The psicological fondations of culture (As bases psicológicas da cultura). Ou seja, a psicologia evolucionista defende a tese de que podemos compreender a natureza da mente moderna apenas se a considerarmos um produto da evolução humana. O ponto de partida dessa argumentação é a mente ser uma estrutura funcional complexa que não poderia ter surgido pelo acaso.



"Mais especificamente, estudiosos argumentam que a mente humana evoluiu sob a força das pressões seletivas enfrentadas pelos nossos ancestrais enquanto viviam como caçadores-coletores nos ambientes do Pleistoceno - os atos e cenas centrais da nossa pré-história. Na medida em que esse modo de vida terminou há apenas uma fração de tempos em termos evolutivos, nossas mentes permaneceram adaptadas à caça e a coleta." (pág.: 68)
A citação acima talvez explique a produção de ferramentas e instrumentos (utensílios de pedra e ossos), as artes rupestres, e os demais vestígios encontrados por arqueólogos e historiadores.
Mas de fato, que semelhanças há entre moderna e a de um neandertal?
"O caráter fundamental da cognição é ela ser holística, o extremo oposto dos sistemas de entrada, que são todos dedicados a lidar com apenas um tipo específico de informação." (The Modularity of Mind; Fodor 1984, p. 4)
Jerry Fodor é um psicolinguista com idéias muito claras a respeito da mente. Propõe que ela deveria deveria ser dividida em duas grandes partes, que chamamos percepção (ou sistemas de entrada) e cognição (ou sistemas centrais). As respectivas arquiteturas são muito diferentes; sistemas de entrada parecem os dispositivos de um canivete suíço, e Fodor os descreve como uma série de "módulos" discretos e independentes, tal qual a visão, a audição, o toque. Fodor inclui a linguagem entre os sistemas de entrada. Em contrapartida, os sistemas centrais não possuem uma arquitetura, ou talvez ela sempre permaneça fora do nosso alcance. É ali que os mistériosos processos conhecidos como "pensamento", "resolução de problemas" e "imaginação" acontecem. É ali que reside a "inteligência".
O uso das metáforas permeia a ciência. Enquanto muitos exemplos são bem conhecidos - o coração é uma bomba mecânica, os átomos são sistemas solares em miniatura -, outros se escondem em teorias científicas, como a noção de "wormholes" na teoria da relatividade e as nuv ens de elétrons na física de partículas. Charles Darwin descreu o mundo valendo-se da metáfora: "um tronco com dez mil cunhas, representando espécies, firmemente introduzidas ao longo de seu comprimento. Uma nova espécie somente pode penetrar nesse mundo apinhado insinuando-se numa fenda e empurrando a cunha para fora." (cf. Gould, 1990,p.229)
A significância das metáforas na ciência, "Metaphor in Science", foi amplamente discutida por filósofos, que reconhecem seu papel crítico não apenas na transmissão de idéias mas na própria prática científica.
Concluindo, a ciência, assim como a arte e a religião, é um produto da fluidez cognitiva. Ela depende de processos psicológicos que originalmente evoluíram em domínios cognitivos especializados e apenas veio à tona quando esses processos puderam trabalhar integradamente. A fluides cognitiva permitiu o desenvolvimento da tecnologia, capaz de resolver problemas e estocar informações , e gerou a possibilidade de usar metáforas e analogias - talvez sua conseqüência mais significativa e sem a qual a ciência não existiria.